terça-feira, 5 de julho de 2011

ÍNDIOS NÃO TEM MEDO DO SILÊNCIO



Nós os índios, conhecemos o silêncio, não temos medo dele.
Na verdade, para nós ele é mais poderoso do que as palavras.
Nossos ancestrais foram educados nas maneiras do silêncio e eles
nos transmitiram esse conhecimento.
"Observa, escuta, e logo atua", nos diziam.
Esta é a maneira correta de viver.

Observa os animais para ver como cuidam se seus filhotes; observa os anciões para ver como se comportam;
observa o homem branco para ver o que querem.
Sempre observa primeiro, com o coração e a mente quietos, e então aprenderás.
Quanto tiveres observado o suficiente, então poderás atuar.
Com vocês, brancos e pretos, é o contrário.
Vocês aprendem falando.
Dão prêmios às crianças que falam mais na escola, em suas festas, todos tratam de falar.

No trabalho estão sempre tendo reuniões nas quais todos interrompem a todos, e todos falam cinco, dez, cem vezes e chamam isso de "resolver um problema".
Quando estão numa habitação e há silêncio, ficam nervosos.
Precisam preencher o espaço com sons.
Então, falam compulsivamente, mesmo antes de saber o que vão dizer.
Vocês gostam de discutir, em sequer permitem que o outro termine uma frase. Sempre interrompem.

Para nós isso é muito desrespeitoso e muito estúpido.
Se começas a falar, eu não vou te interromper.
Te escutarei, mas talvez deixe de escutá-lo se não gostar do que estás dizendo, mas não vou interromper-te.
Quando terminares, tomarei minha decisão sobre o que disseste,
mas não te direi se não estou de acordo, a menos que seja importante.
Do contrário, simplesmente ficarei calado e me afastarei.
Terás dito o que preciso saber.
Não há mais nada a dizer.
Mas isso não é suficiente para a maioria de vocês.
Deveriam pensar nas suas palavras como se fossem sementes.
Deveriam plantá-las, e permiti-las crescer em silêncio.

Nossos ancestrais nos ensinaram que a terra está sempre nos falando, e que devemos ficar em silêncio para escutá-la.
Existem muitas vozes além das nossas, muitas vozes.
Só vamos escutá-las em silêncio.

Texto traduzido por Leela, Porto Alegre:

"Neither Wolf nor Dog. On Forgotten Roads with an Indian Elder" - Kent Nerburn.

O Louco




Perguntais-me como me tornei louco. Aconteceu assim:

Um dia, muito tempo antes de muitos deuses terem nascido, despertei de um sono profundo e notei que todas as minhas máscaras tinham sido roubadas – as sete máscaras que eu havia confeccionado e usado em sete vidas – e corri sem máscara pelas ruas cheias de gente gritando: “Ladrões, ladrões, malditos ladrões!”

Homens e mulheres riram de mim e alguns correram para casa, com medo de mim.

E quando cheguei à praça do mercado, um garoto trepado no telhado de uma casa gritou: “É um louco!” Olhei para cima, para vê-lo. O sol beijou pela primeira vez minha face nua.

Pela primeira vez, o sol beijava minha face nua, e minha alma inflamou-se de amor pelo sol, e não desejei mais minhas máscaras. E, como num transe, gritei: “Benditos, benditos os ladrões que roubaram minhas máscaras!”

Assim me tornei louco.

E encontrei tanto liberdade como segurança em minha loucura: a liberdade da solidão e a segurança de não ser compreendido, pois aquele que nos compreende escraviza alguma coisa em nós

Gibran Khalil Gibran

A existência




“Tudo que você vê é reflexo do que está dentro de si. Se chamar uma pessoa de má, é o mal em você sendo refletido nela. Isso não tem nada a ver com ela. Bom e mau são apenas reflexos do seu ser interior. Nunca os considere separados de você. Bons pensamentos são fonte de boas vibrações. Se o seu ser interior está cheio de amor, o mesmo princípio de amor se manifestará em seu discurso e ações. Quando você tem pensamentos sagrados, você se torna uma pessoa divina.”

Sensualidade




Sensualidade significa que você está aberto, pronto para pulsar com a existência.
Se um pássaro começa a cantar, a pessoa sensual sente, no mesmo instante, a canção ecoar no âmago do seu ser.
A pessoa que não é sensual não ouve nada, ou talvez escute só um barulho. A canção não penetra em seu coração.
Um cuco começa a cantar — uma pessoa sensual não sente como se o pássaro estivesse cantando de um mangueiral, mas sim dos recônditos de sua própria alma.
O canto do cuco transforma-se no canto da própria pessoa, passa a ser seu próprio anseio divino.
Nesse momento, o observador e o observado são um só.
Ao ver uma flor desabrochando, uma pessoa sensual desabrocha com ela.Uma pessoa sensual é líquida, fluente, fluida.
A cada experiência, ela torna-se essa experiência. Ao contemplar o pôr-do-sol, se torna o pôr-do-sol.
Ao contemplar uma noite sem lua, de uma escuridão silenciosa e bela, ela se torna a escuridão.Pela manhã, se torna a luz.
Ao ouvir uma música, ela é a música; ao ouvir o barulho da água, ela se torna esse barulho.
E, quando o vento passa pelo bambuzal, estalando os bambus... ela não está longe deles. Está entre eles, em cada um deles — ela é o bambu.
Ela é tudo o que a vida é.
Saboreia a vida em todos os seus meandros.
Isso a torna uma pessoa rica: essa é a verdadeira riqueza.
Ser sensual é estar aberto aos mistérios da vida.
Seja cada vez mais sensual e deixe de lado todas as condenações.
Deixe que o seu corpo se torne uma porta.

Autor Descoonhecido

terça-feira, 14 de junho de 2011

Flores d'água




Ao te conhecer, próximo ao entardecer
Vi o céu escurecer seu pequenino sapato de palhaço.

Você fazia de tudo para se aproximar de mim,
Meu coração disparava,
O medo distanciava-me de você...

Mas, de nada adiantava correr do inevitável
Pois, meu coração já tinha se ligado ao seu
Através do reflexo de nossas almas
Vistas em nossos olhos d’água...

Sementes de Flores d’água foram lançadas em nosso mar
Cuidar delas, regá-las com amor, carinho e respeito
Será o princípio dessa nova caminhada!

Marina Fatiane

quinta-feira, 28 de abril de 2011

Cobras e Lagartos



Nunca mais vai beber minhas lágrimas
Não vai, não
Me fazer de gato e sapato
Não vai mesmo, não

Se eu choro, me lanho, me arranho
Não é de saudade(suponho que não)
É uma dor que emudece aqui dentro no meu coração

Se eu lembro de tuas palavras
Me vem suor
E o sangue me sobe
A cabeça esquenta
E eu fico pior

Me devolva aos meus travesseiros
E perco o meu sono
Que coisa ruim
Eu só sei que a imagem dele
Pregada na insônia
Não desgruda de mim

Composição : Sueli Costa/ Hermínio Bello de Carvalho

segunda-feira, 25 de abril de 2011

A Carne



A carne mais barata do mercado é a carne negra

Que vai de graça pro presídio
E para debaixo de plástico
Que vai de graça pro subemprego
E pros hospitais psiquiátricos

A carne mais barata do mercado é a carne negra

Que fez e faz história
Segurando esse país no braço
O cabra aqui não se sente revoltado
Porque o revólver já está engatilhado
E o vingador é lento
Mas muito bem intencionado
E esse país
Vai deixando todo mundo preto
E o cabelo esticado

Mas mesmo assim
Ainda guardo o direito
De algum antepassado da cor
Brigar sutilmente por respeito
Brigar bravamente por respeito
Brigar por justiça e por respeito
De algum antepassado da cor
Brigar, brigar, brigar

A carne mais barata do mercado é a carne negra

Composição: Seu Jorge, Marcelo Yuca E Wilson Capellette

Dor de Cotovelo



O ciúme dói nos cotovelos,
na raiz dos cabelos,
gela a sola dos pés.

Faz os músculos ficarem moles,
e o estômago vão e sem fome.
Dói da flor da pele ao pó do osso.
Rói do cóccix até o pescoço
Acende uma luz branca em seu umbigo,
Você ama o inimigo e se torna inimigo do amor.
O ciúme dói do leito à margem,
dói pra fora na paisagem,
arde ao sol do fim do dia.

Corre pelas veias na ramagem,
atravessa a voz e a melodia.

Caetano Veloso

terça-feira, 8 de março de 2011

Catavento E Girassol


Meu catavento tem dentro
O que há do lado de fora do teu girassol
Entre o escancaro e o contido
Eu te pedi sustenido
E você riu bemol
Você só pensa no espaço
Eu exigi duração
Eu sou um gato de subúrbio
Você é litorânea

Quando eu respeito os sinais
Vejo você de patins
Vindo na contra-mão
Mas, quando ataco de macho
Você se faz de capacho
E não quer confusão
Nenhum dos dois se entrega
Nós não ouvimos conselho:
Eu sou você que se vai
No sumidouro do espelho

Eu sou do Engenho de Dentro
E você vive no vento do Arpoador
Eu tenho um jeito arredio
E você é expansiva
(o inseto e a flor)
Um torce pra Mia Farrow
O outro é Woody Allen...
Quando assovio uma seresta
Você dança, havaiana

Eu vou de tênis e jeans
Encontro você demais:
Scarpin, soirée
Quando o pau quebra na esquina
Você ataca de fina
E me oferece em inglês:
É fuck you, bate-bronha
E ninguém mete o bedelho:
Você sou eu que me vou
No sumidouro do espelho

A paz é feita no motel
De alma lavada e passada
Pra descobrir logo depois
Que não serviu pra nada
Nos dias de carnaval
Aumentam os desenganos:
Você vai pra Parati
E eu pro Cacique de Ramos...

Meu catavento tem dentro
O vento escancarado do Arpoador
Teu girassol tem de fora
O escondido do Engenho de Dentro da flor
Eu sinto muita saudade
Você é contemporânea
Eu penso em tudo quanto faço
Você é tão espontânea!

Sei que um depende do outro
Só pra ser diferente
Pra se completar
Sei que um se afasta do outro
No sufoco somente pra se aproximar
Cê tem um jeito verde de ser
E eu sou mais vermelho
Mas os dois juntos se vão
No sumidouro do espelho

Composição: Guinga E Aldir Blanc

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Noturno Copacabana




Noite, à beira-mar
Homens vêm montar
Centauros de silicone
Por cem reais
Nalgum motel
Ou sob o céu do Mirante
Leme, Marimbás
Forte, Posto Seis
É pura pulsão de morte... morte... morte...

Noite, à beira-mar
Carros vão passar
Por vigilantes sereias
Uns vão seguir
Sem escutar
Com algodão nos ouvidos
Outros vêm morrer
Vêm se afogar
No mar de Copacabana ... ana... ana....

E eu vou me equilibrando
Andando, andando
Na corda do meu desejo
E quando, quando
A noite avançar
No fundo do mar
Os mortos matam sua sede... sede... sede...

Francisco Bosco & Guinga

Movimento




Palavras?
Para quê?
Se seus movimentos são extremamente claros e sinceros.

Sentimentos?
Para quê?
Se os que tenho só me causam sofrimento,
E os teus lhe trazem o enclausuramento.

Liberdade?
Só se for à dos pássaros que cantam sem se preocupar com a afinação
E voam para qualquer direção.

Seguir?
Para onde?
Se não cruzaremos mais a mesma estrada.

Quem dera ser o beijo, o seio, o corpo de teus desejos
Ser a Ana do teu mar.
Quisera eu
Você se abrir
E se entregar
Para enfim nos amar...

Te sinto cada vez mais distante
Me sinto cada vez menos interessante.
Não há palavras em tua boca
Mas entendo o que você quer
Só não suporto compreender a verdade.
Assim como você
Não quero mais amar ninguém
Você perdeu quem tanto ama
E eu que nunca tive você
Te perdi, que é de quem eu tanto amo.
Com pedir para você me ensinar a te esquecer
Se nunca houve uma só palavra entre nós?

Posso sentir a sua dor
Bem aqui do lado esquerdo do peito
Posso sentir a dor de ser desprezada
Mas não enganada.
Se me ludibrio é por conta da minha imaginação
É por conta da minha capacidade de amar.

Quisera eu ser mais fria e racional.

Marina Fatiane

Palavras, poucas palavras...


Tentei!

Em minha mochila levei,

Sonhos,

Desejos,

Anseios

E uma paixão!

Esperança

E ilusões muitas ilusões!


Voltei!

Em minha mochila trouxe,

Pesadelos,

Desejos,

Anseios

E um coração ferido.

Nada de esperanças

E tristeza muita tristeza!


Fiquei!

Estagnei no tempo

Sem energia

Sem esperanças de sobreviver

Em meio a tanta gente maldosa e medrosa.

E assim vou me tornando como essa gente

Cada vez mais triste, doente, inflexível, sem palavras e sem sentimentos

Vazia!


Marina Fatiane

Insônia




Observo seu rosto ao dormir
E peço fervorosamente à Deus
O teu amor
A tua compania,
Mas por algum motivo
Nem Deus, nem você ouvem os meus pensamentos!

Do que adianta me chamar para deitar contigo
Se ao desnudar-me com teu olhos
Mal ousa tocar-me
Seja com seus lábios vermelhos
Seja com suas mãos quentes
Seja com seus pés frios
Seja com seu membro viril...

Nem te olhar me satisfaz
Logo me canso de tanto voyeurismo
E caio no sono.
Sonho contigo e suas supostas pretendentes,
Amores pendentes.
Acordo triste e assustada
Pois me parece real!

Toco-te e você se afasta
Olho-te, mas você desvia o olhar
Nem ouso te abraçar ou te beijar
Seus movimentos são frios e precisos
Certeiros, vão de encontro com o meu peito
Penetrando, dilacerando, esquartejando meu coração
Que já anda fragilizado há anos...

Viro-me para o lado e tento dormir
Mas nem você, nem o sono vêm...


Marina Fatiane

Marcas



Marcada estou,
Triste me tornei.
Distante fiquei,
O amor a dois nunca encontrei.
Em um rio jamais naveguei,
Teu coração nunca terei.
Alegria jamais reencontrarei,
Assim como teus lábios, teus olhos, teu corpo.

Ah! Desejo infinito que causa irritação
Dor no coração
Morte
Perdição
Oh! Mundo cão.

Varias canções
E um único “NÃO” que insiste e persiste
Martela cronicamente em minha mente
Nada sã.

Cisão,
Negação,
Dissociação,
Quero ir embora
Quero sair desse mundo
Quero ter uma amnésia, AGORA!

Marina Fatiane

Partida


Partirei no primeiro ônibus
Sairei em disparada
Não olharei mais para trás
Te esquecerei

Cansei de ser ignorada e rejeitada,
Desnuda-me com teus olhos
Mas não me tocas...
Saiba que sou feita de carne
E meu coração não tem cimento
Ele é frágil meu bem
Não sou como você
Uma geleira humana,
Um iceberg...

Por isso, partirei
Te esquecerei,

E não mais retornarei!

Marina Fatiane

Lendas




Debruçado em sonhos de você
Nas campinas nas estradas do luar
Derramado em seu olhar
Eu fui por seu amor
Escravo e rei, amado e rei

A saudade cedo se calou
Como a dor sentida em lendas de amor
Muito mais que amigo sei
Eu fui por seu amor
Escravo e rei, amado rei

Fiz do verso pensamento em flor
Fiz um rio de água clara
À foz do amor
Bem mais lindo que chorar
É se saber do amor
Amado rei, escravo e rei

Egberto Gismonti e Paulinho Tapajós