domingo, 20 de setembro de 2009

Refugiados do Centro Cirúrgico



Tenho tido muita coisa a escrever, pois não consigo falar, talvez por que eu não tenha pra quem falar a não ser pra mim mesma, pois são apenas reflexões.
Sempre tive o discusso de que só trabalho dentro do Centro Cirúrgico porque dessa forma eu mantenho o mínimo possível de contato com os pacientes.
Mas hoje eu me enganei.
Antes de me preparar para entrar no campo cirúrgico, escutei gritos insuportáveis, graves, talvez de dor. Sai da minha sala para ver o que estava acontecendo e dei de cara com um médico que gritara tão grave quanto o som que eu havia escutado outrora.
Logo depois descobri que os gritos que me chamara atenção, partia de um jovem rapaz considerado como “não eficiente” mentalmente.
Horas depois, trabalhando no expurgo quase no final de minha jornada dentro do centro cirúrgico, olhei para o meu lado direito e me deparei com um olhar que pedia um olhar diferente, um olhar que pedia colo, aceitação.
Por três vezes olhei para aquele olhar e a única coisa que gostaria de perguntar e saber era como ele estava se sentindo:
- Você está se sentindo bem?
Afinal de contas lhe abriram a cabeça, lhe exploraram todos os cantos do cérebro, ou somente partes dele, sabe-se lá se não lesaram ainda mais tua cabeça.
Porém, o último olhar foi o mais sinistro, ao vê-lo ser encaminhado para U.T.I. pelo maqueiro, percebi o olhar da morte. Ainda não consigo descrever esta morte, mas me soa bastante triste. Desejo que seja a morte de todos os preconceitos, mas acabo de pensar na possibilidade dele estar se tornando, após essa cirurgia um morto-vivo, estar entrando em um estado vegetativo.
Agradeço a Deus por conseguir e poder me comunicar, pois se não pudesse fazer o que me restaria seria somente o olhar, o tocar. E infelizmente não são todos os seres humanos que conseguem ter essa capacidade de compreensão corporal do outro.
Lamento para aquelas pessoas que não conseguem compreender além das palavras, não se aprofundam no olhar do outro, não compreendem quando o corpo nos fala, não sentem o cheiro do outro seja ele doce, amargo, forte. Enfim não compreendem o ser humano por completo.
Já decidi vou ser Psicóloga Hospitalar.
Não dá mais para negar minhas origens, quando analisei meu genograma percebi que um grande número de pessoas na minha família se importa com a saúde, trabalham ou já trabalharam em um hospital.
Enfim, são apenas devaneios.
Preciso ir!


Fritiane Totallytchoisted.

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